Chapéu na cabeça, bigodito à Canário, suspensórios para cima ou para baixo e muita alegria. É desta forma que Fernando Graça, no mundo da música mais conhecido por Xico à Portuguesa, se apresenta em palco. A maturidade dos seus 50 anos e a experiência adquirida durante o longo período que trabalhou na Rádio Cardal, em Pombal, facultaram-lhe as aptidões de animador e entertainer. As letras engraçadas são meio caminho para atingir o objectivo de divertir o público. Depois é só juntar a alegria e a boa disposição que o caracterizam. O resultado pode ser comprovado em cada espectáculo. Mas também já foi mostrado nas audições do programa televisivo da RTP1 Got Talent Portugal. E o júri Pedro Tochas não teve dúvidas em afirmar: “Isto é mais divertido do que bom, mas é ultra divertido!”.
“Eh pessoal, tudo a bater palmas! Isto é festa ou não é festa!?” foi desta forma que Xico à Portuguesa deu início à sua actuação nas audições do Got Talent Portugal. O público aderiu. A Cuca Roseta e o Pedro Tochas entraram na brincadeira. O Manuel Moura dos Santos ficou boquiaberto, mas no final acabou por lhe dar o sim que carimbou a passagem de Fernando Graça às semifinais do concurso. Contudo, não foi suficiente, uma nova selecção dos candidatos deixou o artista das Meirinhas (Pombal) para trás. Valeu pela experiência.
Missão de comunicar e animar
Mas voltemos atrás, onde tudo começou. Fernando Graça cresceu no seio de uma família humilde e assim tem vivido até aos dias de hoje. Em criança, foi escuteiro e tomou gosto por ajudar os outros e por comunicar. Na juventude, foi vocalista de uma banda de baile. Mais tarde, colaborou com a Rádio Cardal e o jornal Correio de Pombal, até se iniciar por conta própria. O Xico veio a seguir. Veio completar o bem-estar e a felicidade de Fernando Graça. Afinal, um homem alegre e comunicador não consegue passar muito tempo sozinho, sente falta de comunicar e animar. E a música popular portuguesa é um bom veículo para cumprir esses desígnios.
“Esta missão de comunicar e cantar é também um bocadinho o sonho de criar uma forma de, pelo meio da música, conseguir ser bom conselheiro para os vindouros, para os mais novos e até para os da minha idade”, explicou Fernando Graça, salientando que “não tenho a solução para se lidar com a vida”, mas “acredito que o nosso trabalho e a fé com que fazemos as coisas é meia força para conseguirmos tudo”.
Foi por isso que criou e interpreta este “boneco”. “O talento do Xico está cá dentro. Não tem a ver com as qualidades com que canto, nem com o sumo concentrado da letra que debito. Não é por aí. É pelo espírito e pela forma como extra-arte eu me dou à causa de envolver e divertir as pessoas”.
“Tinha de ser Xico”
Mas porquê a música popular portuguesa? “Eu gosto de jazz, blues, funky, rock’n roll, música clássica… Mas sabia que com esses ingredientes não ia a lado nenhum”. “Ao mesmo tempo, tinha de criar qualquer coisa para um gajo com barriga e que fosse velho, portanto tinha de ser mesmo um Xico”. Além disso, mais importante do que o género que realmente gostava, era preciso apostar naquilo que realmente tinha futuro. E “este estilo de música é a música do povo e aquela que toca mais pessoas”.
Depois, há também o lado engraçado e alegre. “Eu sempre fui aquela pessoa que gosta de dizer uma anedota ou mandar uma graçola no meio de uma reunião séria, não para estragar a reunião, mas para aquecer o espírito das pessoas, tornando-as mais predispostas a produzir mais”, adiantou Fernando Graça, admitindo que “nesta área das canções eu sou mesmo um bocado axicalhado”. Afinal, “sou o gajo que vai lá para tentar animar, mas só de receber os sorrisos das pessoas, fico com a plena noção de que já fiz ali qualquer coisa e eu próprio recebo isso como um carregador de bateria”, logo “esse tipo de fascínio só poderia dar num Xico”.
Mais. “Eu sei que não estou a cantar grande coisa, que não estou a dizer grandes palavras, nem a passar grandes mensagens, mas a melhor mensagem que passo é o conforto emocional”. Aliás, “as próprias músicas já são veículo para isso, para contagiar as pessoas com alegria”, considera Fernando Graça, frisando “também gosto de introduzir nas minhas letras assuntos muito sérios”. As suas letras “não são grande poesia”, são antes aquilo a que chama de “poesia rural contemporânea”, contudo servem um propósito: “animar as pessoas, envolver mais gente e chamar a atenção para assuntos sérios”. E desengane-se quem pensa o contrário, porque “as pessoas percebem as mensagens que quero transmitir”.
Todavia, apesar de lhe dar muita satisfação interpretar este “boneco”, “esta forma de viver não é aquela que eu considero a ideal, nem é a chamada vida de sonho”, mas depois de uma vida dedicada à família, chegou a altura de fazer aquilo que gosta e lhe dá algum prazer: comunicar e animar. “Estou a congratular-me da vida que estou a construir e já estou feliz com isso”, confidenciou ‘Xico’, ressaltando que “gostei de todas as partes da minha vida”.
E a família como é que viu a possibilidade de ingressar no mundo dos espectáculos e particularmente neste género musical? “Com as mãos na cabeça. Mas eu também lhes disse que não estava a dar um salto para o escuro, porque ando na área dos espectáculos há muitos anos”. Aliás, os concertos que tem dado de Norte a Sul do país e até no estrangeiro são fruto do seu trabalho. “Tenho semeado muito para colher”, realça.
Talento reconhecido
Prova disso é a sua participação no Got Talent Portugal. “Eu decidi ir ao Got Talent, porque a própria produção do programa me contactou a dizer que tinha de me inscrever”, revelou Fernando Graça, adiantando que a decisão de ir não foi imediata, inicialmente ficou reticente, até que acabou por aceitar o desafio de participar, mesmo sabendo que “não era um concorrente potencial vencedor daquele concurso”.
“Eu componho, mas não sou músico”, diz, com a certeza de que “o meu talento que foi reconhecido por aquele programa não é de cantar, é antes o de entertainer”, pois “mais pareço o gajo que acabou de sair da taberna a cantar já com os copos”.
O Xico à Portuguesa até pode ter “uma configuração algo brejeira”, mas ao mesmo tempo tenta “trabalhar com o tal pau de dois bicos”, associando a brincadeira com assuntos sérios e o resultado são letras em que uma parte é focada num determinado tema e a outra é a brincar com as coisas.
E para quando a edição de um disco? “É entretanto. Não vou estar à espera que nenhuma editora me chame, porque não tenho aquilo a que eles chamam de bom negócio. Por isso, ando a estudá-lo. Já tenho uma série de originais e já estive a avaliar quanto custa”. Falta apenas concretizar. “Não é difícil, o meu problema é mais financeiro e na verdade temos de fazer opções”, afirmou Fernando Graça, garantindo que “o disco é algo fundamental para neste próximo ano estar acabado”. “É um objectivo para os próximos 365 dias”, reitera o cantor, mesmo consciente de que “já não se vendem discos” e defendendo que “as músicas devem ser feitas para se darem”.
“Nesta área da música sou um bocado autodidacta”, diz, argumentando que “juntei a força da internet com o meu talento”. “Sou eu próprio que preparo as minhas actuações, que divulgo os meus vídeos e giro os meus passos, no fundo sou autónomo, tanto que às vezes me esqueço do trabalho que o meu cliente está à espera, porque estou empenhado no meu sonho e no meu caminho”, refere, salientando que “não podemos ficar à espera que chova, temos de correr atrás dos nossos sonhos, senão não acontece nada”. “Há pessoas que passam demasiado tempo à espera que chova e esquecem-se que se não fizerem nada, os sonhos também não vêm ter connosco, por isso temos mesmo de ir à procura”, concluiu.
CARINA GONÇALVES
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