Linha SOS Estudante regista aumento de 100% nas chamadas: solidão é o tema mais recorrente

A linha de apoio emocional e de prevenção do suicídio SOS Estudante, criada em Coimbra em 1997, registou mais do dobro de chamadas no ano lectivo 2024/2025. Apesar de ter nascido “por e para estudantes”, a maioria dos contactos é hoje feita por adultos e idosos, revelou a presidente do serviço, Rita Neves, no âmbito do Dia Mundial da Saúde Mental.

Dos 1.799 atendimentos registados durante o último ano lectivo, 52% foram realizados por pessoas entre os 36 e os 64 anos, e 17% por idosos. Só depois surgem os jovens adultos e estudantes, sendo muito poucos os adolescentes a recorrerem ao serviço.

Rita Neves considera que este fenómeno não resulta de falta de divulgação. “A linha está muito presente nas faculdades e escolas, mas os estudantes não estão tão abertos a pedir ajuda ou a ligar para linhas de apoio”, explicou.

O crescimento das chamadas, mais de 100% em relação ao período anterior, demonstra, segundo a responsável, que “as pessoas precisam cada vez mais de falar” ou que “a linha está a chegar a um público mais alargado”.

Apesar de o serviço ter como missão a prevenção do suicídio, a maioria das chamadas prende-se com problemas relacionais e solidão. “Muitos telefonam apenas para falar sobre o seu dia. Há ainda quem ligue em silêncio, incapaz de se expressar. Mas só o facto de saber que há alguém do outro lado já acalma e encoraja a tentar novamente”, contou.

Para Rita Neves, a solidão está presente em quase todas as conversas. “É uma constante. Mesmo quando o motivo inicial é outro, acaba sempre por vir ao de cima”.

A presidente defende que as situações mais graves exigem acompanhamento especializado. A propósito de casos recentes de suicídio entre jovens, lembrou que “toda a comunidade escolar deve ser acompanhada por profissionais de saúde mental, e não apenas os que estavam mais próximos das vítimas”.

A SOS Estudante funciona entre as 20h00 e a 01h00, com um grupo de 33 voluntários, todos estudantes do ensino superior de Coimbra. Nenhum recebe qualquer compensação financeira. “O que nos move é a consciência de que estamos a fazer a diferença”, sublinhou a presidente.

Os voluntários passam por um rigoroso processo de selecção e uma formação de 30 horas, que os prepara para atender pessoas em crise emocional. Embora não sejam psicólogos, oferecem um apoio primário e imediato a quem mais precisa.

Rita Neves, que integrou o serviço antes de assumir a presidência, recorda que “o mais difícil é perceber que a ajuda tem limites”. “Acreditamos no poder da escuta activa, mas nem sempre conseguimos salvar alguém. Há chamadas que nunca se esquecem”, confessou.

Na data em que se assinala o Dia Mundial da Saúde Mental, deixou uma mensagem de esperança: “Pedir ajuda é um acto de coragem. Estar atento a quem nos rodeia pode, literalmente, salvar vidas”.

A linha SOS Estudante pode ser contactada através dos números 915 246 060, 969 554 545 e 239 484 020.

Fonte: Campeão das Províncias