Um terço dos jovens que procuraram a Consulta de Psiquiatria do Estudante Universitário em Coimbra tinha reprovado de ano, referiu a coordenadora de um projecto que comemora 10 anos e que realizou quase três mil consultas numa década.
O projecto, que resulta de um protocolo entre a Unidade Local de Saúde (ULS) de Coimbra e a Universidade, celebra esta segunda-feira 10 anos de existência e realizou 2.784 consultas a 740 estudantes, dos quais 240 tinham reprovado de ano.
Para a coordenadora do projecto, Sofia Morais, o número de estudantes que reprovou pelo menos um ano é um dado relevante e mostra a relação entre saúde mental e sucesso académico.
“Infelizmente, só quando chumbam é que muitos procuram ajuda”, disse à agência Lusa a responsável da iniciativa, considerando que as próprias instituições de ensino superior têm de ter um outro olhar sobre o insucesso.
Segundo Sofia Morais, a relação com a instituição, uma melhoria na cultura de pertença, oferta de actividades extracurriculares ou a criação de horários estruturados que permitam regimes pós-laborais e tempos livres condensados poderiam contribuir para uma melhor saúde mental dos estudantes.
“Não podemos olhar para as reprovações e dizer que é só culpa dos alunos. É preciso perceber porque é que há insucesso e monitorizá-lo”, disse.
Nas quase três mil consultas realizadas ao longo dos últimos dez anos, o projecto registou mais mulheres (64%) do que homens, dois terços estudantes portugueses, e uma prevalência para alunos das faculdades de Ciência e Tecnologia (34%), Letras (23%) e Direito (16%).
A maioria dos alunos que procuraram o serviço estava a frequentar licenciatura (65%) e eram estudantes deslocados (80%).
Segundo a responsável, os diagnósticos mais prevalentes são perturbações depressivas (26,6%), de ansiedade (21,3%) e de personalidade (16,1%).
Cerca de dois terços dos estudantes tiveram consultas de psicologia e 15% não tiveram psicofármacos prescritos (e, dos que têm, metade tem apenas um medicamento prescrito).
Na consulta de psiquiatria do estudante universitário, 67,8% dos estudantes têm consultas de psicologia, sendo a prescrição de psicofármacos reduzida: 15,2% não têm medicamentos prescritos e, dos que têm, 52,6% estão em monoterapia (apenas um fármaco prescrito).
A consulta que foi criada por Sofia Morais, quando ainda era interna, cresceu desde a sua fundação e junta hoje outros médicos psiquiatras da ULS de Coimbra, além de ter uma relação estreita com os psicólogos da Universidade de Coimbra.
O projecto assenta num modelo em que os psicólogos fazem uma triagem, com os casos mais ligeiros a serem observados por medicina geral e familiar, outros por psicologia e apenas os mais graves são acompanhados por psiquiatras.
Mesmo com o crescimento do projecto ao longo desta década, Sofia Morais acredita que as doenças mentais continuam subdiagnosticadas nos jovens, com o projecto a avançar agora com uma campanha de literacia em saúde mental, intitulada OwlMinds, no âmbito da qual decorre esta segunda-feira, às 19h00, uma edição do programa de rádio Prova Oral, de Fernando Alvim, no Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV).
Fonte: Campeão das Províncias
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