Um projecto que começou como uma investigação na Universidade de Coimbra (UC) está a desenvolver um tubo biodegradável para permitir a recuperação de lesões nervosas.
Intitulado “NerveGen”, o projecto foi uma das 10 ideias e tecnologias apresentadas na sessão de encerramento da 11.ª edição do programa de aceleração ineo start, promovido pela incubadora Instituto Pedro Nunes, em Coimbra.
O produto começou numa investigação no seio da UC, há seis anos, no âmbito de uma tese de doutoramento, em que se procurava criar “um novo tubo-guia para a regeneração do nervo periférico”, afirmou à agência Lusa Jorge Coelho, professor naquela instituição e um dos responsáveis do projecto.
As lesões nervosas, provocadas por tumores, por efeitos secundários de cirurgias ou por acidentes de viação, representam mais de 300 mil novos casos anuais só na Europa, sendo que as soluções actuais apresentam vários problemas, apontou.
“O mais usado é o chamado autoenxerto do nervo, em que se tira um nervo de outro sítio do corpo, que está saudável, e implanta-se no sítio em que é necessário. Mas esta solução apresenta imensos problemas, envolve duas cirurgias, é caro e tem diferentes riscos”, salientou Jorge Coelho.
De acordo com o docente da Universidade de Coimbra, há já várias soluções de tubos suturados em ambas as pontas do nervo lesionado e que guia a sua regeneração.
No entanto, os tubos existentes “têm vários problemas”, nomeadamente na velocidade da sua degradação, na sua eficiência e também na libertação de produtos ácidos.
“Nós desenvolvemos um tubo novo, com polímeros aprovados pela FDA [agência de regulação norte-americana], e estamos a produzir com tecnologia de impressão 3D, que permite fazer um tubo personalizado para cada paciente”, aclarou Jorge Coelho.
Já com a tecnologia patenteada em vários dos principais mercados, o projecto pretende fazer mais testes em animais, antes de entrar em ensaios clínicos.
O programa ineo start veio dar “ferramentas nas várias vertentes, porque a tecnologia é fundamental, mas depois há outras valências que as equipas têm de ter”, realçou, apontando para questões como planos de negócio ou marketing.
Outro dos projectos apresentados foi o HaPILLness, que procura atacar o problema de administração de compostos em ensaios pré-clínicos a ratos, em contexto de laboratório.
“A metodologia que temos ao nosso serviço passa por dosear compostos de testes por via oral, em que é introduzido um tubo pela boca do animal. No fundo, é como se tivesse de fazer uma endoscopia todos os dias só para ser doseado. Isto é muito invasivo e indutor de stress. Não é uma metodologia compatível com a legislação que regulamenta o uso de animais para fins científicos e também condiciona os resultados que temos, porque os animais estão muito stressados e há variáveis que são afectadas”, afirmou Sofia Viana, do projecto.
A resposta desta ideia passa por criar uma goma segura, capaz de incorporar substâncias que os roedores consomem de forma voluntária, aclarou a responsável, salientando que todos os anos há cerca de cinco a seis milhões de ratos que são usados na Europa em contexto de investigação e que são doseados por via oral.
O projecto está, neste momento, em processo de ser patenteado e pretende desenvolver um protótipo para, futuramente, entrar no mercado, referiu.
Um dispositivo para combater a desidratação grave sem necessidade de profissionais especializados, um produto para facilitar as tarefas de planeamento no futebol, uma tecnologia para a produção de cogumelos e um projecto para adaptar aeronaves de combate a incêndios em veículos aéreos não tripulados autónomos foram outras das propostas que participaram no programa de aceleração e que apresentaram, na quarta-feira, as suas ideias de negócio.
Fonte: Campeão das Províncias
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