“A Terceira Margem”, conto do escritor brasileiro João Guimarães Rosa, é o tema da nova edição da ‘AnoZero – Bienal de Coimbra’, que trará à cidade 39 artistas de várias partes do mundo, dando particular destaque aos emergentes “ou que não tenham tido tantas oportunidades”.
Do Convento de Santa Clara-a-Nova ao Edifício Chiado, da Sala da Cidade às Galerias Avenida, dos vários edifícios da Universidade de Coimbra ao Círculo de Artes Plásticas, até ao claustro do Jardim da Manga e ao espaço público de Coimbra, por todo a parte se irá respirar arte e cultura, de 02 de Novembro a 29 de Dezembro.
Além do foco nos novos artistas, outra das novidades desta terceira edição, além de um orçamento que cresceu para o meio milhão de euros, é a introdução de um novo local para mostrar a arte: o Jardim da Manga. “Todos os anos pretendemos recentrar a atenção num espaço da cidade que esteja mais esquecido e, nesta edição, propomos um local icónico e menos dignificado que é a fonte do Jardim da Manga e que está a ser recuperado”, afirmou Carlos Antunes, director do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC). Nas edições anteriores esses espaços esquecidos e, hoje, devolvidos à cidade, foram a Sala da Cidade e o Convento de Santa Clara-a-Nova.
Esta “A Terceira Margem” apoia-se em três pilares essenciais, desenvolvidos pelo curador geral Agnaldo Farias e pelos dois curadores-adjuntos, Lígia Afonso e Nuno de Brito Rocha: uma exposição, um programa de activação / educativo e um livro.
A exposição será composta pelos trabalhos dos 39 artistas convidados, nacionais (alguns até de Coimbra) e internacionais, muitos bem conhecidos mundialmente, que mostrarão em Coimbra e durante quase dois meses projectos que vão da música ao cinema, arquitectura, dança, visitas guiadas, conferências ou teatro. No total estão comissionadas 20 obras, que tiveram como base o tema desta edição.
Em relação ao programa de activação / educativo prende-se, essencialmente, com o trabalho que vai ser desenvolvido pelos alunos de mestrado em Estudos Curatoriais do Colégio das Artes da Universidade de Coimbra, em colaboração com a ‘Esfera CAPC’. Neste caso, a ideia é “fortalecer o vínculo com a cidade, os seus moradores e a Universidade, oferecendo aos alunos formação em contexto e garantir-lhes pôr em prática, num ‘laboratório’ real os seus conhecimentos”, explica a organização da Bienal, da qual fazem parte o CACP, a Universidade de Coimbra, a Câmara Municipal e o Turismo do Centro.
Quanto ao livro, o mesmo não será o “habitual” que se vê neste tipo de eventos, mas antes um “ensaio dos artistas participantes, especificamente criados para este formato”, contando também com textos de outros autores não participantes.
Na apresentação desta terceira edição, que decorreu hoje, no Convento de Santa Clara-a-Nova, Delfim Leão, vice-reitor da UC, destacou “o processo ascensional da bienal, que mostra a união entre a cidade, a região e as entidades”, para além de dar à UC a responsabilidade de “ser um dos palcos” e, por isso, envolver “os jovens em formação e fazê-lo num espaço que é excepcional”.
A vereadora da Cultura, Carina Gomes, sublinhou que a bienal é “um claro exemplo da dimensão europeia e mundial onde Coimbra se quer posicionar, pelo menos, até 2027”, notando que esta é a “edição mais internacional de todas”.
Dando relevo a um dos objectivos desta edição, a vereadora afirmou que a bienal tem o poder de “dar palco e visibilidade a novos artistas, sendo também esta a sua função”. Destacou, ainda, o interessa cada vez maior das faixas mais jovens neste evento, para além do crescente número de voluntários.
“Que este evento ímpar na cidade reflicta sobre o passado, o presente e o futuro através das artes”, notou.
Outro dos parceiros na organização é o Turismo do Centro, que segundo considera o seu presidente Pedro Machado, este é “um dos projectos-âncora da candidatura do programa ‘Lugares Património Mundial do Centro’, que junta Coimbra, Tomar, Batalha e Alcobaça”.
“A bienal é um projecto inovador e disruptivo, que provou já cumprir os objectivos de atrair públicos e proporcionar satisfação às comunidades, seja as residentes ou as que visitam”, afirmou o responsável, acreditando que este é um “produto diferenciador que pode ser um factor de atracção no estrangeiro” e que ajudará, pela sua duração, a “fixar pessoas mais do que uma ou duas noites, para que possam desfrutar de toda a programação”.
Para o curador Agnaldo Farias, esta bienal procura “o contacto com a comunidade” e, por isso, faz todo o sentido “dar vida a esta Convento” e ter um projecto educativo “que tenha ressonância na comunidade”, fomentando “a produção artística, daí o contingente de jovens artistas menos conhecidos”.
A curadora-adjunta, Lígia Afonso, destacou a vontade de levar a bienal “além fronteiras”, mas que também seja “aberta à cidade” e um “motor de novas produções”. Entre as várias obras, a curadora dá relevo às de João Maria Gusmão e Pedro Paiva; Anna Boghiguian; Steve McQueen e à de Tomás Cunha Ferreira.
O orçamento de 500 000 euros conta com um contributo de 75 por cento da Câmara Municipal de Coimbra; Universidade de Coimbra; Direcção-Geral das Artes e Centro 2020; os restantes 25 por cento pertencem a mecenas, entre os quais EcoStill e o Millenium BCP.
Toda a programação tem entrada livre e pode ser consultada em www.anozero-bienalcoimbra.pt
Os artistas participantes são, então: Alexandra Pirici; Ana María Montenegro; Ana Vaz; Anna Boghiguian; António Olaio; Belén Uriel; Bouchra Khalili; Bruno Zhu; Cadu; Daniel Melim; Daniel Senise; David Claerbout; Erika Verzutti; Eugénia Mussa; Joanna Piotrowska; João Gabriel; João Maria Gusmão; Pedro Paiva; José Bechara; José Spaniol; Julius von Bismarck; Laura Vinci; Luis Felipe Ortega; Luís Lázaro Matos; Lynn Hershman Leeson; Magdalena Jitrik; Maria Condado; Mariana Caló e Francisco Queimadela; Marilá Dardot; Mattia Denisse; Maya Watanabe; Meriç Algün; Przemek Pyszczek; Renato Ferrão; Rita Ferreira; Steve McQueen; Susan Hiller; Tomás Cunha Ferreira.
[Foto: Agnaldo Farias, Carina Gomes, Carlos Antunes, Delfim Leão, Pedro Machado e Lígia Afonso]
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