COIMBRA,30 de Junho de 2025

AMIDI quer assistência médica obrigatória em todos os lares do país

25 de Agosto 2022 Rádio Regional do Centro: AMIDI quer assistência médica obrigatória em todos os lares do país

Uma legislação que torne obrigatória a assistência médica em todos os locais onde haja idosos institucionalizados. É esse o objectivo da Associação dos Médicos dos Idosos Institucionalizados (AMIDI), que está a exercer actividade desde Abril deste ano.

O médico João Gorjão Clara era ainda coordenador do Núcleo de Estudos de Geriatria da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) quando teve a ideia de organizar cursos de formação para os médicos que acompanham idosos que estão nos lares. Pouco tempo depois, e unindo-se a um grupo de especialistas em medicina interna ligados à Geriatria, nasce a AMIDI.

Para além de dar formação, a associação pretende encontrar respostas para uma situação particular. “A legislação que legaliza os lares exige um conjunto de profissionais, nomeadamente, enfermeiros, mas não exige nenhum médico. Isso incomoda-me muito porque as pessoas que estão nos lares são, sobretudo, idosos doentes que, muitas vezes, têm múltiplas patologias e não podem estar num sítio onde não dispõem de uma assistência médica permanente”, explica João Gorjão Clara, médico e director da AMIDI, em declarações ao “Campeão”.

Nesse sentido, esta associação apela a que a lei que legaliza os lares seja modificada, tornando obrigatória a contratação de médicos. “Temos a intenção de convencer o Ministério da Saúde de que é preciso alterar o alvará da concepção de licença aos lares introduzindo uma norma que os obrigue a ter assistência médica qualificada e de disponibilidade permanente. Em Portugal, a especialidade de Geriatria não existe. O próprio ensino nesta área está muito atrasado”, alerta João Gorjão Clara.

A AMIDI tem, assim, como propósito discutir a problemática dos doentes idosos que estão nos lares, no que diz respeito à sua abordagem terapêutica, internamento e assistência contínua. O especialista explica que, para isso, os médicos (e não só) têm acesso a formação especializada na área da Geriatria. “A associação abre-se a todos os profissionais de saúde que trabalham nos lares e que deviam pertencer e inscrever-se na AMIDI. A associação é constituída por médicos, mas não é exclusivamente para médicos”, sublinha.

Há mais de 125 mil idosos institucionalizados em Portugal

Em Portugal, são mais de 125 mil os idosos institucionalizados em lares. João Gorjão Clara considera que falta olhar para os mais velhos como um grupo específico com necessidades próprias. “Os idosos constituem um grupo especial de pessoas, tal como as crianças. Reagem de maneiras próprias e não podem ser tratados como se fossem adultos. Adultos e velhos são, de facto, pessoas diferentes”, salienta.

O especialista lamenta, assim, que não exista a especialidade de Geriatria no nosso país, como acontece na maior parte dos países da Europa. “Um pouco por todo o mundo civilizado foi reconhecido que era preciso criar estruturas próprias para dar assistência aos doentes mais velhos. Nós não temos nenhuma unidade nos nossos hospitais”, expõe, assumindo que “ao longo da vida, sempre tive grandes obstáculos a fazer passar esta mensagem. A Geriatria tem 100 anos e se, de facto, não se justificasse não se tinha multiplicado”.

João Gorjão Clara acredita ainda que a falta de reconhecimento pela área se deve a um falso problema. “Nem todos os doentes velhos são doentes geriátricos, embora todos tenham de ter uma avaliação diferente de um adulto ou uma criança. Contudo, um idoso de 80 anos que não tenha nenhuma doença e que tem uma infecção aguda respiratória deve ser tratado num hospital numa cama normal de medicina. São os doentes complexos os que precisam de ir para uma unidade de Geriatria”, esclarece.

Associação é pioneira na Europa

A funcionar desde Abril, a AMIDI pretende articular-se com outras entidades na área da saúde, de modo a melhorar a assistência prestada aos idosos institucionalizados. “Penso que a Ordem dos Médicos nos vai apoiar na necessidade de alterar os contratos que existem nas Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPI) com os profissionais que lá trabalham”, admite João Gorjão Clara.

Considerando que é preciso ser-se resiliente para trabalhar na área da Geriatria, o director da AMIDI orgulha-se de estar à frente de uma associação pioneira na Europa e não tem dúvidas de que o caminho será marcado pela esperança. “A pouco e pouco, a Geriatria vai-se implantando no nosso país e as pessoas vão reconhecendo que esta é uma especialidade útil. É preciso continuar a lutar”, conclui.

Fonte: Campeão das Províncias

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