A Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) alertou, em vésperas de Natal, para o impacto crescente da solidão na sociedade portuguesa, sublinhando que este fenómeno afecta cerca de 10% da população e aumenta em 14% o risco de mortalidade por todas as causas. A organização defende que o combate à solidão deve ser assumido como uma prioridade de saúde pública.
Em comunicado dirigido aos decisores políticos, a OPP considera a solidão “um dos grandes desafios da nossa sociedade” e um problema global de saúde pública, salientando que as intervenções para a sua prevenção e mitigação são custo-eficazes. Segundo a Ordem, por cada euro investido em medidas de combate à solidão, o retorno pode variar entre dois e 14 euros.
A OPP alerta que, para além dos efeitos negativos na saúde, bem-estar e qualidade de vida das pessoas, a solidão tem também um impacto significativo na economia e na coesão social. Entre as consequências apontadas estão a perda de produtividade, associada a menor capacidade de concentração e motivação, aumento do absentismo e do presentismo, bem como maiores custos para as empresas.
A solidão está igualmente ligada a maior vulnerabilidade económica, nomeadamente ao aumento do risco de desemprego e às dificuldades em manter o emprego, sobretudo quando coexistem problemas de saúde psicológica. Do ponto de vista do sistema de saúde, a Ordem refere que este fenómeno implica mais consultas médicas, hospitalizações, recurso aos serviços de urgência e maior consumo de medicação.
O documento destaca ainda os efeitos clínicos associados à solidão, como o aumento do risco de doença cardiovascular, diabetes tipo 2 e um impacto comparável ao de fumar 15 cigarros por dia. A solidão está também associada a perturbações como depressão, ansiedade, perturbação bipolar, psicose, perturbação de stresse pós-traumático, perturbações do comportamento alimentar, ideação suicida e comportamentos autolesivos, podendo ainda aumentar em 31% o risco de demência.
A nível internacional, a OPP recorda que, em Espanha, o impacto económico da solidão foi estimado em cerca de 14 mil milhões de euros em 2021, o equivalente a 1,17% do Produto Interno Bruto. Nos Estados Unidos, o isolamento social de pessoas adultas mais velhas representa um custo adicional anual de cerca de seis mil milhões de euros, enquanto no Reino Unido este problema custa aproximadamente três mil milhões de euros por ano às empresas.
Dados divulgados pela Ordem indicam que, a nível global, uma em cada seis pessoas é afectada pela solidão, sendo os adolescentes entre os 13 e os 17 anos o grupo com taxas mais elevadas, com 20,9% a reportar esse sentimento. Em Portugal, uma em cada 10 pessoas admite sentir-se sozinha a maior parte do tempo. A OPP sublinha ainda que, em média, morrem 100 pessoas por hora em todo o mundo por causas relacionadas com a solidão, o que corresponde a mais de 871 mil mortes por ano.
Para a Ordem dos Psicólogos Portugueses, o combate à solidão exige uma abordagem integrada e multinível, envolvendo áreas como a Saúde, a Educação, o Trabalho, o Urbanismo e as Políticas Públicas. A OPP defende a criação de uma estratégia nacional que promova a coesão das comunidades e reconheça o papel central dos psicólogos na prevenção e intervenção neste domínio.
Fonte: Campeão das Províncias
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